sábado, 27 de fevereiro de 2010

Dr. José Augusto de Sousa


Quando entrei para o Contencioso, no edifício chamado "Caracol", na Rua do comércio, o dr. Sousa era dos advogados mais antigos, juntamente com o dr. Lino Paiva, o Dr. Aresta Branco, o dr. Carlos Olavo, Drª Lemos Viana, e outros. Era director o dr. Belo de Morais, que tinha substituido o dr. Vaz Monteiro, que havia transitado do contencioso para a administração.
O dr. Sousa era contra os divórcios. Nunca tratava de nenhum divórcio que lhe viessem pedir para tratar. Há quantos anos estão casados? - há três anos. - Então estão na crise dos três anos, que passa em dois meses.
Era sempre a crise que passava em dois meses. Era adepto de reconciliação e de fechar os olhos para alguma falta, mesmo que fosse infidelidade.
Ele próprio era um romântico.
Gostava de recitar às senhoras a seguinte poesia que ouviu a um amigo meu no Algarve:
Ando a lembrar-me de ti
do teu nome todo o dia.
Foi por isso que escrevi
em toda a parte escrevia,
nas negras pedras do chão
nos muros arruinados,
o teu nome em letras belas,
tão belas como não há.
Falta-me escrever no céu,
e no Sol... e nas estrelas:
meus braços não chegam lá.

Contava uma história de um cliente, que eu penso que tinha acontecido com ele, mas enfim. Então o seu cliente andaria a dar assistência a uma senhora que tinha um namorado casado que passava todos os fins de semana fora de Lisboa, com a família. Este namorado casado, era ciumento e nos fins de semana ia telefonando para controlar a namorada, mas, é claro, os telefonemas serviam também para a namorada controlar o ciumento, porque ela ia sabendo onde ele estava.
Um dia o namorado regressou de fim de semana, sem avisar e quando meteu a chave à porta, estava trancada por dentro. Tocou à campaínha:
-O que é que se passa? Enquanto responde e não responde, o cliente do Sousa, esconde-se entre um armário e a parede do quarto. Só que, com a pressa e porque nem tudo lembra e o criminoso deixa sempre uma pista, o entalado deixou à entrada do quarto a sua pasta, que foi o que logo viu o namorado quando entrou. Foi entrando, foi entrando até que deu, claro, com o entalado entre o armário e a parede, cada vez mais encolhido.
- Ó senhor, saia daí, que eu não lhe faço mal.
O entalado lá se convenceu a sair e começou a chorar e a jurar que não tinha feito nada e que só tinha estado ali a falar um pouco, porque estava muito em baixo e não sei quê. E lá foi agarrando a pasta e saindo e descendo a escada e fugindo pela rua fora.
Eu dizia-lhe ao Sousa que ele qualquer dia lhe acontecia como ao entalado e que podia sair mal a coisa.
Actualmente, reside no Norte e eu já uns tempos que não o vejo.

2 comentários:

  1. Amigo Sousa, gostei de te rever ( ainda que infelizmente ), só em fotografia.

    Onde quer que estejas, um grande abraço de amizade.

    Joaquim Matos

    ResponderEliminar
  2. Um grande abraço que está por dar. É um abraço de muita amizade e e gratidão por o ter conhecido.

    Mário Rui Martins (Ag. Barcelos e Sala de Cambios)

    ResponderEliminar