segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Natal 1977



Olá Marçalo, Olá pessoal do Secretariado Operacional.
No Natal de 1977, o Bermudes ofereceu-nos um poema com desenhos do genial Pádua.
Lembram-se?
Aqui vai o poema e o desenho da capa
NATAL COM D. QUIXOTE


Um, nascido em Belém,
inocente e nu
como qualquer menino
— Porém,
filho de Deus,
de sua condição
divino.

Nasceu o outro
na Ibéria,
filho da imaginação
de um pecador.

Mas, adversários, ambos
da miséria,
-paladinos da bondade,
em cada um batia
um coração
a transbordar de amor
por toda a Humanidade.

D.Quixote
Todo ossos forrados de latão
acenam-te com gestos obscenos
às janelas nas praças e nas ruas
não dando por que passa um seu irmão
Grandes se julgam sendo tão pequenos
mas tu imperturbável continuas...

SANCHO PANÇA

Troçam de ti e é isso que me dói:
o seres a sombra apenas do gigante
o olho vigilante do seu sono
— Tu Sancho Pança o verdadeira herói
o verdadeiro cavaleiro andante
num burro escarranchado atrás do dono!

DULCINEIA

No palheiro a fornica o servo rude
de tratadores de bestas é amante
o vagabundo os seios lhe belisca
Todos porem lhe exaltam a virtude
Pois quem ao pé do cavaleiro andante
de sua honra a duvidar se arrisca?

ROCINANTE

Caricato arremedo de cavalo
os cascos a garupa o rabo a crina
o incerto passo o pífio relinchar...
Que importa a D.Quixote se ao montá-lo
o rei dos cavaleiros se imagina
sonhando um puro sangue cavalgar?


D. QUIXOTE
A
SANCHO PANÇA

«Nem tudo o que é verdade é verdadeiro
não nos iludem sempre as ilusões
que os criadores de sagas somos nós
— Pois que vês e ouves meu fiel escudeiro:
pandas velas ou asas de dragões
silvar de cobras ou rodar de mós?»

DE LANÇA EM RISTE
E CORAÇÃO ACESO

A Dulcineia o povoléu rebaixa
o nome lhe profere com desprezo
lhe chama barregã mulher perdida
— E ei-lo que investe de viseira baixa
a lança em riste o coração aceso
disposto a dar por nada a própria vida!

EPITÁFIO PARA
D. QUIXOTE

Companheiro dos que sofriam Sós
Famintos de Justiça Amor e Pão
Louco sem cura Sonhador romântico
Por isso és vivo em cada um de nós
Por isso ainda a tua voz irmão
ressoa dos Pirineus ao Atlântico!

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